Monday, June 14, 2010

Sept

Eram nove horas da manhã e começou a chover. Fazia algum tempo que não chovia na cidade.Por essa Verônica não esperava e disse:

- Bom, agradeço pelo café da manhã, estava ótimo!
- Verdade? – disse ele meio sem graça.
- Verdade, sem brincadeira. Onde aprendeu a cozinhar desse jeito?
- Nossa, acho que você está exagerando um pouco, não? Nem cozinho tão bem assim.
- O papo está bom, mas agora eu preciso ir.
Ela ainda não notara que estava chovendo. Levantou da cadeira, recolheu os pratos e os colocou dentro da pia, que ficava perto o fogão.  Vestiu um avental que estava pendurado perto de um quadro e lavou a louça, como uma forma de agradecimento. David ficou encostado com o pé na parede e de braços cruzados, como de costume o esquerdo por cima do direito, observando-a cuidadosamente para que não pudesse perder nem sequer um movimento seu. Ela estava de costas lavando a louça.
 Verônica percebeu que ele a olhava, virou-se então imediatamente, deparando-se com encontro de olhares. David meio sem graça desviou o olhar. Era o que a maioria dos homens faziam quando ela era encarada:
- Bom, acabei de lavar a louça..
- Ah, muito obrigada.
- Não há de quê. Você me hospedou aqui e, era o mínimo que eu poderia fazer pra você.
Secou as mãos no avental e logo após o tirou e pendurou novamente no mesmo lugar em que ele estava. Foi andando até a  janela para ver a paisagem:
- Ah! Eu não acredito! Eu não acredito que está chovendo! Não vou poder sair assim, estou sem guarda-chuva..Tudo o que é errado acontece comigo! É incrível – disse com um tom de irritação.
- Por quê diz isso?
-  Porque é a realidade! Tudo dá errado pra mim, tudo!
- Não diga isso, acha que sua vida ocorreu de uma maneira errada?
- Sim.
- Porque?
- Ah, não sei..No começo era tudo novo, tudo muito legal;mas depois virou tudo uma rotina idiota. Sempre fazia as mesmas coisas, ia para os mesmos lugares, com as mesmas pessoas, ou encontrava em festas aquelas que me odiavam e que tinham a cara-de-pau de dizer que estava com saudades, perguntavam o que eu havia feito desses tempos pra cá. Bando de cretinos falsos! Odeio isso, odeio mesmo! Odeio ter de olhar pra ágüem que eu sei que vive falando de mim pelas costas, espalhando mentiras e tudo.
- Bom, você como uma modelo tem de saber lidar com este tipo de gente..
- Ah! Eu sei, eu sei! Sei disso!Mas é que você não entende o que nós modelos passamos. Chega a semana do desfile e não nos deixam comer nem sequer um sanduíche, porque dizem que senão a roupa não vai caber! Quantas vezes eu, no camarim não presenciei desmaios das outras modelos que iriam entrar na passarela em questão de cinco minutos. E sabe o que faziam? Me colocavam como substituta e só me avisavam em cima da hora!
- Nossa... – disse surpreso.
- Pois é.
Observando ainda na janela:
- E essa chuva não vai parar mesmo, não é? – disse olhando para David.
- Não, não vai. Se quiser te dou uma carona, meu carro está aí embaixo, no estacionamento que é coberto e não molharia você... Para onde quer ir?
-  Como você está sendo gentil comigo. Me hospedou aqui, fez um café da manhã pra mim...e ainda me oferece carona..
Ela foi se aproximando de David. Por uma fração de segundo, pôde sentir sua respiração e seu perfume, que, na verdade não era exatamente perfume, era um aroma diferente, doce e ao mesmo tempo cítrico e forte. Marcante.
- Bom, eu preciso me hospedar em algum lugar. Um hotel; não sei...só para não incomodar você..Afinal deixei o meu emprego e só estou com alguns dólares no banco..
- Se você topar, eu te arranjo um emprego como fotógrafa. Tenho uma câmera aí que era minha e eu acabei que comprando uma nova, mas esta funciona bem.
Não era possível, Verônica havia fugido de seu destino, aparentemente.
Havia deixado Alex, sem nenhuma explicação. Já havia esquecido de que ele algum dia existira em sua vida. Mas o que iria dizer a David? Ele não sabia de nada do que houve em sua vida pessoal. Mas não poderia recusar o convite. Ela já havia trabalhado como modelo e, sempre tiravam fotos dela para propagandas e afins, já tinha uma noção básica de como manusear uma câmera fotográfica.
Não podia recusar o convite, afinal ele estava sendo muito legal e atencioso com ela.. Verônica estava pensativa, quando David perguntou-lhe:
- O que houve? Quando apresentei minha proposta de trabalho pra você, você ficou pensativa, como se não estive mais aqui. Só estivesse seu corpo.
- Não é nada..só estou irritada com essa chuva toda que não pára. Mas aceito sim o seu convite.

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