O sol estava se pondo. As folhas das árvores cobria o campo. O vento era forte e seu cabelo bagunçava.
Estava deitada na grama com um óculos escuro, cabelo preso e ouvindo música.
Estava deitada em cima de uma toalha vermelha quadriculada.Sentira algo diferente no ar. O chão estava derretendo. Algo estava puxando-a para o subsolo. Algo cuja força era maior que a sua. Era impossível lutar contra. Ao piscar dos olhos o sol já não mais fazia parte de seu cenário.
A escuridão tomou conta de sua vida naquele momento. Sua respiração era ofegante; lágrimas estavam escorrendo e não havia nada à se fazer . Ouvia um ruído que não sabia de onde era. Como uma estação de rádio fora de sintonia.
Estava caída no chão. Estava onde nunca antes estivera. Onde tudo o que quisera fazer, fizera.
No começo a sensação é de desespero, mas logo depois é de comodidade.
Estava fora de órbita por tempo indeterminado, mas ainda deixara algo que pudesse voltar. Um objeto. A toalha quadriculada, na qual continha seus pertences.
Quando sentia saudades das coisas do outro mundo, subia até a superfície para ver como é que estavam as coisas, se algo teria ou não mudado. Se as pessoas teriam ou não sentido falta de sua presença que era sempre motivo de alegria para quem a amava.
O amor que antes havia por completo, agora não existe mais.
à princípio ela sempre subia à superfície para respirar um novo ar. Mas não poderia ficar em dois mundos para sempre. Já bastava o sensível.
Decidira então não mais subir.
Decidira pela primeira vez o que ela realmente quisera. O que por muitas vezes fora barrado, ou com pessoas sobre achismos e sem argumentos.
Optou pelo inteligível.
Conforme o tempo passara, estava cansada demais da perfeição. Aquilo não mais era para ela.
Era apenas um momento de fuga. Não poderia ficar ali todo tempo.
Por um longo tempo esquecera do que um dia fez parte de sua vida. Lá era como se outrém não mais a controlasse.
Lá também havia um céu, também havia um sol, também havia uma grama.
Estava sentada na grama e havia um pote de vidro com a tampa com a mesma cor de sua toalha, onde
com a ponta do dedo, escrevia no ar, tudo o que pensava sobre aquele outro lugar. Era como um diário propriamente dizendo. As letras apareciam lindamente e desapareciam suavemente, encaminhavam-se para o pote, como se já soubesses exatamente o caminho à seguir.
Era lindo. Tudo era lindo.
Mas era tudo perfeito.
Perfeição esta que não fazia parte de sua essência.
Acordara como se houvesse tido um pesadelo; e como se esse pesadelo quisesse realmente passar uma mensagem à ela.
Sentou-se na cama, procurou os chinelos;levantou bruscamente à procura de um espelho para ver como estava. Precisava de um ar puro.
Desceu as escadas, abriu a porta dos fundos e ficou no quintal. O vento era gelado e a fazia pensar rapidamente em todo o sonho ou pesadelo que tivera esta noite. Alguns minutos se passaram e ela não podia ficar mais ali, estava chovendo.
Era de madrugada e não havia ninguém ali. Ela estava sozinha. Recolheu-se novamente até seus aposentos. Subiu as escadas, entrou no quarto;deixou os chinelos à sua frente. Deitou-se. apagou a luz do abajour e virou-se para o lado.
Uma expressão de susto tomara conta dela naquele instante. Seus olhos estavam arregalados.
E o pote estava lá.