Era tarde, estava frio.
Eu voltava do trabalho.
Parei no farol, meu celular tocou. Era mamãe me esperando pro jantar.
Abaixei o volume do som e depois de desligar o celular, ouvi um barulho estranho, como o choro abafado de neném. Mas não haviam nenéns ali. O que havia era apenas crianças fazendo malabarismo no farol, para tirar uns trocados pra comer.
Ao menos não estavam pedindo esmolas e sim mostrando o que aqueles pequenos braços raquíticos eram capazes de fazer.
O choro não cessou. Então decidi estacionar o carro e fui em direção do barulho.
Havia uma caixa em um beco. Ao abri, deparei-me com um lindo menino. Não era recém-nascido. Devia ter uns 3 meses ou mais. Era lindo. Cabelos castanhos, olhos claros.
Não havia ninguém por perto.
Não pensei duas vezes. Peguei-o em meus braços. Ele havia parado de chorar. Liguei para a polícia vir até o local. Demorou um pouco, mas enfim chegou.
A criança estava em meus braços, enrolada em uma manta que eu sempre deixava dentro do carro. Ao menos ele não estava passando frio; mas chorava. Devia ser de fome.
Entreguei o neném à polícia. Perguntei sobre adoção e a policial disse que essas coisas eram muito complicadas e burocráticas e disse que era pra eu ia até a delegacia depois.
Durante uma semana entrei em contato com o pessoal que era responsável pelo caso do menininho abandonado. Depois de muita insistência, consegui o que queria.
Quando soube que seria meu filho, decorei o quarto que havia em meu apartamento, onde antes era meu escritório. Eu era estéril , não poderia ter filhos. Então aquela notícia foi um presente para mim. Procurei fazer as coisas que uma mãe faria para seu filho. Afinal, nunca soube quem eram meus pais de verdade. Eu era adotada. E a história parecia repetir-se novamente..
às vezes eu me perguntava se saberia cuidar direito de uma criança. Ele era tão pequeno.
Voltei para casa com ele nos braços. Não quis ir de carro. Peguei então um táxi, para poder aproveitar cada segundo com meu filho. Arthur, esse era seu nome.
A cada dia que passa ele está cada vez maior e mais esperto. Não perco um momento sequer com ele. Na estante, há muitas fitas gravadas. E às vezes, sentamo-nos no sofá para assisti-las.
No inverno, quando neva, fazemos bonecos de neve e tomamos chocolate quente. Eu Arthur e Natan.
Natan é meu marido. O conheci no mesmo lugar onde adotei Arthur.
Ele era bem devoto à Deus e eu, Ateu. Quando disse que era estéril ele disse que para Deus, nada é impossível; e que só bastava eu ter fé e sempre rezar, que obteria o meu desejo.
Havia adotado Arthur fazia uns quatro anos.
Natan e eu decidimos fazer tratamento para que eu pudesse engravidar. As primeira tentativas foram falhas.Voltei para casa sem esperanças e o que eu queria era somente dormir e nada mais.
Tive um sonho. Havia uma mulher nua com somente o ventre à mostra e ao lado havia uma semente. O lugar onde a mulher estava, era muito claro e havia uma criança pequena junto à ela. Uma menina. A menina repetia a ação sem parar. Colocava a semente na palma da mão e fechava depois. Apertava-a com bastante força, mas não deixava seu semblante demonstrar força física. Era como se estivesse fazendo toda a força do mundo e com uma expressão de calmaria. A menina colocava a semente no ventre desta mulher.
Acordei assustada, sem saber o que fazer. Aquela mulher do sonho não poderia ser eu.
Disse à Natan o que houve e ele disse que poderia ser um sinal.
Então eu disse que se Deus existisse mesmo ele deveria conceber-me um filho.
Duas semanas se passaram. Eu não estava me sentindo muito bem. Havia passado mal no trabalho e o que eu queria era somente descansar. Resolvi depois de um cochilo, ir à farmácia fazer um teste de gravidez.
Fui sem a menor expectativa e quando vi o resultado, não pude conter-me.
Eu estava grávida.
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