Saturday, April 2, 2011

Angústia

Hoje descobri que tenho câncer.
Não quero contar nada à Laura e as crianças. Estamos casados há treze anos..e não quero perdê-las.
Como será daqui pra frente?
Uma coisa dessa, quando acontece, muda completamente todos os seus planos. Será melhor então viver uma vida sem planos, mesmo não tendo doença alguma? Devo parar de pensar. O melhor é voltar para casa.
É estranho você chegar em casa, abraçar suas lindas filhas como se fosse morrer amanhã.
O estranhamento delas foi inevitável; perguntaram por que raios eu, as abraçava daquele modo. Quase nunca tinha tempo pra família. O trabalho sempre me ocupava mais. Mas não deixava de ser um pai dedicado e um marido presente.
Aquela notícia me afetou profundamente. Decidi então contar para Laura.
A reação dela não foi outra à não ser o choro exaltado e angustiante.
Não em importo em morrer cedo.Me importo como os outros vão lidar com a minha morte.
Laura acalmou-se e fomos dormir.
Ao acordar, senti meu corpo pesado. Eu não conseguia me mexer. Estava tendo um A.V.C ( Acidente Vascular Cerebral). A sensação era horrível.Minha cabeça e meu corpo formigavam. Eu tinha consciência do que estava acontecendo, ams não podia fazer nada diante da situação.
Laura levou-me então ao médico.
Fizeram uma bateria de exames, e agora minha família teria de decidir se  perderia minha fala mas alimentaria-me  normalmente, ou se por sonda, mas continuaria falando.
Uma decisão difícil.
Naquele momento eu não sabia o que iriam decidir por mim, não sabia o que era pior, se o pior seria únca mais poder sentir o gosto de uma comida, ou nunca mais poder dizer como é não sentir.
Decidiram, depois de uma longa reunião dos médicos e com o resto de minha família, o que deveria de ser feito por mim.
Decidiram então, que eu pudesse depois da cirurgia de emergência, alimentar-me normalmente.
Eu, agora, me tornara praticamente um vegetal. Lágrimas ainda escorriam de meus olhos, inchados.
Quando a tristeza bate no corpo o que primeiro você deixa de fazer é comer. De que adianta eu poder comer, se a vontade agora estava longe de mim. Não havia mais vontade de viver, de sorrir.
A angústia dominara-me por coompleto. Eu era um homem incompleto e sentimental.
Acabara de perder o que de mais valioso eu tinha. E nunca mais pude dizer o quão eu amava minha família.

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