"Hoje eu acordei com vontade de morrer"- era o que dizia ele quando não queria estar onde estava. Não por ser fraco ao ponto de cometer um suicídio. Mas porque o suicídio depende das leis sociais e não da vontade dos sujeitos. Pessoas acabam fazendo com que outrém haja de tal forma.
Ele não gostava mais de nada. Nada mais o fazia sentir vontade de estar ali.
Não via efeito em ir ao psicólogo. Para ele era mais um blá-blá-blá, um monólogo afirmativo, sem muito entendimento.
" Pelo menos uma dez mil pessoas já pensaram em suicídio."
" Sim." - disse a psicóloga.
" Não entendo o por que, quando pensamos em suicídio as pessoas se acham que possuem o direito de dizer que você está errado por pensar assim."
" As pessoas que estão com depressão pensam no que pensa."
" Não concordo."
" e por que não?"
"Não tenho depressão e penso."
" Você acha que você não tem. Muitas pessoas que estão também dizem a mesma coisa." não quero mais ficar aqui, com você." - disse ele levantando da cadeira.
" E por que não quer?"
" Por que você faz tantas perguntas?"
Ele saiu sem se despedir.
Andava pela rua com toda a raiva que poderia ter das pessoas que estavam passando por ali.
" O que não me conformo é que uma pessoa não pode matar outra e nem acabar com tudo." - falou em voz alta.
Decidiu então voltar para sua consulta que ainda não havia acabado. Tocou a campainha e permanecia um pouco envergonhado ao dizer tudo à uma dama. A revolta era dentro de si e descontar nos outros era o que mais lhe incomodava e acabou fazendo sem perceber. Foi um erro, ele estava ciente disso.
" Desculpas por ter saído daquele jeito ".
" Eu sabia que iria voltar" - disse ela com uma calmaria sem tamanho.
"Olhe, vou lhe mostra umas coisas" - disse ela pegando uma caixa preta que estava na parte de dentro da estante em seu consultório.
Pegou a caixa e lentamente caminhou até onde ele estava.
" Abra-a." - disse ela.
Ele fez o que ela havia lhe pedido. Dentro haviam muitos bilhetes;foi tirando de dentro um por um e colocando sobre a mesa. Como pôde notar eram xerox de bilhetes de pessoas que cometeram suicídio. Ficou surpreendido com o fato de terem tantos bilhetes dentro da caixa.
" Escolha um."
Ele escolheu o que mais lhe chamara a atenção.
O bilhete era de um garoto de quinze anos que deixara para o pai:
" Pai. Eu não quero ser mais uma ovelha desse sistema."
O garoto ficou ali, sentado durante minutos lendo e relendo a frase. Por acaso possuíam a mesma idade.
" Agora pode ir. A consulta já terminou."
Olhou no relógio e percebeu que havia demorado muito tempo para decidir voltar ao consultório. Pegou sua mochila e saiu sem se despedir, novamente. Foi para casa caminhando.
Perto de chegar em casa, decidiu comprar tinta azul. Ao chegar em casa sentou-se no sofá e ficou novamente pensando naquela frase do garoto que tinha escrito para o pai. Depois de alguns minutos, tirou a mochila das costas e largou-a no sofá. Pegou a lata de tinta e revirou o quarto de bagunças para ver se encontrava um de seus pincéis de quando fazia aula de pintura. Depois de revirar o quarto de ponta a ponta, achou o pincel dentro de uma sacola com mais tintas que estavam dentro de uma outra caixa, dentro de seu baú.
Subiu as escadas até seu quarto. Afastou a cama da parede. forrou o chão com jornal e colocou ali sua lata de tinta aberta e escreveu com o pincel:
" O suicídio faz com que os amigos e familiares se sintam seus assassinos. - Vicent Van Gogh"
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