Monday, June 7, 2010

Ápice

Tudo está calmo. Ando descalça sentindo a cerâmica gelada.
Saio do quarto, desço as escadas, vou até o escritório e pego um livro que está sobre a mesa, de madeira reluzente, sento-me em cima dela e começo a ler.
Não há ninguém perto.
Abro o livro e lá está meu nome, meus pensamentos, minhas ideias,meu ideais, tudo o que eu escrevi a minha vida inteira. Abro em uma página quase que no fim e havia uma descrição:
" Peguei uma  faca, das da minha coleção. Escolhi a mais bonita e a minha preferida. O cabo era de madeira envernizada, com minhas iniciais grafadas ali.Queria dar um fim  tudo.Subi a manga de minha camisa e vi meu braço, branquinho, branquinho e ao mesmo tempo cheio de hematomas. Não haviam mais espaços e nem veias, haviam apenas pontos roxeados. Muitos pontos.
Fiz o que havia de ser feito, fiz um corte vertical em meu antebraço. Aquilo tudo era lindo. Eu podia ver meu sangue escorrendo pelo meu braço e pingando na minha coxa. Aquele licor humano era  tão lindo. Agora eu não queria mais nada, eu queria apenas o céu. Ao lado da mesa haviam dois lírios brancos;peguei um deles e com a maior cautela possível passei suas pétalas por meu antebraço.
Agora aquele lindo lírio estava manchado de sangue e em meu braço, havia um leve perfume de lírio branco..
Perfume ao qual já era meu."
Era tudo muito estranho. Porque havia meu nome ali?
Aquela era a minha letra!
Mais uma vida que eu joguei fora.
Mas por que eu deveria mudá-la?
Eu já estava morta mesmo!
Cortei-me até que nenhuma gota de sangue houvesse em meu corpo pálido e frágil.
O telefone não parava de tocar. Os recados caíam na secretária eletrônica. Apertei o botão para ouvir as mensagens..
" Amor? Você está aí? O que está fazendo, por que não em atende? Te liguei muitas vezes.."
Atendi o telefone.
" Oi."- disse eu com uma voz de exaustão.
" O que você tem?"
" Olha.. eu não... vou.. a-aguentar!"
" Mas e os tratamentos,e os 12 passos? Se você quiser posso ir com você à uma outra clínica.."
" Vem pra cá. Eu te amo."
Desliguei o telefone e deitei. Minha franja estava sobre o rosto e enquanto ele não chegava eu, ficava soprando-a. Até que... todos os sons pararam naquele momento e não havia mais nada além d emim, deitada alí.
 Após alguns minutos, lá estava ele. Chorando em cima de meu corpo, chorando por mim.
Chorando por ter tentado me ajudar e não ter conseguido.Fraquejei. Mas era isso que eu era, sengundo ele... uma fraca! Suas lágrimas pingavam em meu rosto.. escorrendo até minha boca..Doce sabor.
O caos já o dominava.
Tudo era fantasia..
A verdade já não mais existia.

1 comment :

  1. Lindo.

    Nós sempre encontramos palavras impressas em futuros incertos, frases compostas por nós e escritas por nossas mãos. O importante é traçar um caminho de paz, um sentido de alegria e com um final poético.

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