Abriram a porta do estacionamento. David apertou o botão para chamar o elevador. Ao entrarem no mesmo, o silêncio tomou conta do ambiente.
Ao entrarem no carro, Verônica ficou um tanto apreensiva e ansiava pelo que poderia ocorrer. David então rompeu o silêncio:
- E aí? Para onde quer ir?
- Ah, podemos ver alguns hotéis por aí.
- Tem certeza mesmo de que quer ficar em um hotel?
- Tenho.
- Então vamos ver alguns por estas ruas.
Andaram uns quatro quarteirões de onde David morava. Ele avistou de longe um hotel. A fachada era branca, bem iluminada, com muitos detalhes em branco, dourado e verde.
- Olha, que tal este?
- Não sei, acho que é mais caro do que posso pagar.
- Quer procurar outro? – disse ele com total paciência.
- Sim! Ah! Acho que há um ali mais pra baixo..
- Já me hospedei uma vez naquele hotel que você quer ir e fui super mal atendido lá. Acho que você não iria gostar nem um pouco.
- Ah, droga! – disse ela exasperada
- Calma, calma..vamos para o meu apartamento novamente, pelo menos até você encontrar onde quer ficar.
- Ah, desculpe-me por minha estupidez momentânea. É que tudo aconteceu tão rápido.
- quer desabafar?
- Até agora não te disse nada sobre como eu fui parar lá naquela boate, aquela noite, quando você me levou para o seu apartamento..
- Pois é..
- Como sabe, eu sou modelo, ou pelo menos era modelo. Já contei isso também pra você, que estava cansada das pessoas e tudo..
- Isso, já sim..
- Então... fui para Paris, conheci Alex no avião. Quando fico perto dele eu me sinto muito bem. Ele é inteligente e tudo, fotógrafo por sinal...e eu acabei que em apegando a ele.Mas eu já tinha namorado...mas eu não gostava mais dele como antes. Minha cabeça ficou muito confusa, então juntou tudo e decidir voltar pra cá, sem avisar ninguém. O que eu mais queria era tirar essa angústia de dentro do meu peito;beber,dançar. Me divertir mesmo. E foi o que fiz.
- Você não se arrepende de ter feito isso?
- De certa forma. Foi o melhor que eu deveria fazer.
- Foi o melhor pra você, mas não queira dizer que seja o melhor para quem você fez isso.
- A minha vida inteira,sempre pensei em agradar primeiramente os outros. Sempre. Quando decido pensar em mim, você me diz que deveria ter pensado nos outros..Os outros são os outros.. Não costumo fazer comparações, pelo contrário! Odeio!
- Calma, calma, não se exalte! – disse ele exasperado.
- Não estou exaltada. Você é quem está!
- É que você não se contém!
- Desculpe-me.. estou tão cansada.. Vou tomar um banho. Onde tem uma toalha?
David mostrou-lhe onde tinham toalhas limpas. Verônica foi caminhando devagar até a porta do banheiro. Ele a fitava. Ela entrou no banheiro;a tranca estava ruim, então o jeito era tomar banho com a porta entreaberta.
Abriu a torneira da banheira para que a enchesse. Enquanto isso começou desamarrando seu cabelo; depois tirando o tênis, depois a camiseta, depois a calça. Estava apenas com as roupas de baixo. Ainda estava com as meias. Abaixou-se e equilibrou-se somente em uma perna para poder tirar a meia. Seus pés estavam quentes. Ao tocar com eles na cerâmica gelada, Verônica teve tontura e desmaiou.
David percebeu que da torneira ainda estava correndo água. Não havia nenhum barulho. Chamou Verônica da porta, mas ninguém respondia. Ele ficou meio assim de entrar no banheiro, mas não teve saída. Entrou e a viu no chão desmaiada.
Fechou a torneira. A banheira estava quase transbordando e ela estava lá caída no chão.
Ele a pegou no colo e a deitou na cama. Ficou acariciando seus cabelos que estavam soltos enquanto ela acordava..
Ele a olhava de um jeito meigo, delicado e sorridente..Estava preocupado com o que havia acontecido, mas não queria aparentar.
Continou ali, olhando-a.
Ao acordar Verônica ficou assustada, afinal, é um pouco assustador você abrir os olhos e alguém estiver olhando em seus olhos a todo o tempo:
- Nossa! Quer me matar de susto,é?
- Não, não..desculpe, mas é que você desmaiou no banheiro e fiquei preocupado..está tudo bem?
- Não em lembro de muita coisa do que houve..lembro do impacto de meus pés descalços na cerâmica gelada e..o barulho da água na banheira..
Ela ainda estava deitada na cama quando David foi aproximando-se de seu rosto. Olhou Verônica nos olhos e a beijou. Um beijo calmo, delicado.Seus lábios eram carnudos bem desenhados e macios. Verônica ficou mais surpresa ainda, mas não quis interromper este momento tão diferente. Como ela, uma modelo, poderia estar agora beijando um fã?
Um fã que não sabia que existia e que a tratava tão bem, tão diferente de outros caras. Podia sentir sua respiração e seu cheiro. Sua respiração era calma, como quem estava curtindo aquele momento que logo poderia terminar ou que talvez continuasse. Mas que só dependia dela. Ele tinha um cheiro diferente, não era perfume...era algo como uma essência sem descrição..mas que ela amara.
Continuou beijando-o. ela estava deitada;ele sentado. David deitou-se então ao seu lado.
Ficaram ali olhando-se como dois bobos. Ele acariciava seu rosto, tirando o cabelo dos olhos e sorrindo para ela.Verônica não estava em si. Aquele momento era tão mágico e tão perfeito que ela poderia ficar ali, por horas se sentisse vontade. Estava cansada, exausta. Seu dia havia sido muito cheio. Adormecera.
Para Verônica, aquele momento fora único. Tudo havia parado. Como se houvesse turbulentos movimentos e de uma hora para outra, tudo para.
O dia amanheceu. Ela acordara primeiro, e ficara pensando no que houvera na noite anterior;se realmente tudo aquilo pudesse ser verdadeiro, ou se passava apenas de mais um de seus casos. Ainda era cedo pra dizer, mas ela tinha certeza que algo diferente estaria por acontecer.
Pensara também em seu passado, na loucura que cometera em deixar o namorado e o emprego. Deixado uma carreira brilhante para trás, para arriscar em algo incerto. Mas foi o que Verônica julgava ser a coisa certa naquele momento. Ela nunca se arrependera de algo que tenha feito. Esse era seu conceito.
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